E se a essência fosse rotina?

Depois de contemplar lua e estrelas
Engastadas em tamanho breu
E ler Drummond
À beira do fogão
De lenha não mais acesa
Mas ainda quente

Eu dormiria ao som
Do cricrilar dos grilos
Meu sono seria leve
E me traria paz

Meu despertar se daria
Pelas tesourinhas e sabiás
Que cedo
Põem-se a cantar
Cada dia mais vivaz

Na mesa
Manteiga e pão
Leite e café

Selaria o Diamante
Cavalo preto como a noite,
Como o breu que eu contemplara
E sairia galopante

À deriva do mundo
Esquivando de galhos
Que me machucavam
E em meio galhofas e carinhos
Seguiríamos de volta o caminho

Preciso trabalhar
Arar a terra
Colher, plantar
Vender o queijo
Tratar dos bichos
Coisa corriqueira
Inadmissível tardar

A tarde veria o sol se pôr
Com banho de cachoeira
Tocaria Milton
No meu velho violão
Em volta da lareira

Aveludando a voz
Com geladinho rosé
Antes que o tenro bandô
Da cortina de crochê
Me acordasse
Do cochilo na poltrona
Que desperta a soneira

E eu iria pra cama
Depois de um dia tranquilo
E dormiria serena
Ao cricrilar do grilo
Que ainda soa...

Me seria fácil a rotina
Se fosse assim
Tão boa.

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